Torcicolo congênito: O que é? Tem cura?

Um dos problemas musculoesqueléticos congênitos mais frequentes é o TC (torcicolo congênito). Esta doença, desenvolvida durante a gestação ou no parto afeta os músculos do pescoço. O torcicolo congênito é uma anomalia ortopédica no pescoço, provocando o encurtamento do músculo ECM (esternocleidomastóideo) – músculo da face lateral do pescoço, na região anterolateral; é o principal flexor do pescoço –, sendo causado por uma fibrose ou rotura muscular (contração muito forte e violenta do músculo).

Nestes casos, o bebê nasce com o pescoço virado para um dos lados da cabeça, tendo ainda algumas limitações na movimentação do pescoço. Em crianças com esse problema há uma inclinação da cabeça na direção do lado afetado e rotação da mandíbula em direção ao lado oposto. No recém-nascido normal, a rotação passiva da cabeça de um lado a outro chega a 180º, ao passo que na criança com torcicolo a rotação para o lado oposto frequentemente não ultrapassa a linha mediana.

Torcicolo congênito: O que é? Tem cura?

Em alguns casos observa-se a presença de um nódulo sob a forma de uma tumoração ovoide, localizada no ventre do músculo, que aparece entre a 2ª ou 3ª semana de vida e desaparece antes dos seis meses. Pode evoluir para a plagiocefalia (cabeça torcida, oblíqua e assimétrica). A incidência do torcicolo congênito é de 1 a cada 250 recém-nascidos.

Torcicolo congênito tem cura
Alguns sintomas da anomalia podem ser percebidos logo após o nascimento do bebê.

O que causa o torcicolo congênito?

A sua etiologia (causa) ainda não está muito bem definida nos meios médicos, mas existem algumas hipóteses. Uma delas é a má posição do pescoço no útero, que provoca isquemia levando à fibrose do ECM; outra é o alongamento do músculo ECM provocado durante o trabalho de parto.

Outras hipóteses são:

– Isquemia arterial com hipofluxo sanguíneo para o esternocleidomastóideo;

– Obstrução venosa do esternocleidomastóideo;

– Hereditariedade;

– Utilização de fórceps.

Como diagnosticar torcicolo congênito?

O diagnóstico é feito clinicamente, realizado por meio da observação de determinados sintomas por parte do médico obstetra ou pediátrico. Os sintomas incluem:

  • Aparecimento de uma massa cervical móvel e dolorosa, de consistência dura, com cerca de 1 a 2 cm (não ocorre em todos os casos);
  • O bebê assume uma posição preferencial com a cabeça virada para um dos lados, sendo bastante evidente no final da segunda semana depois do nascimento;
  • Limitação dos movimentos cervicais (pode não ocorrer em todos os casos);
  • Rotação do pescoço, com o rosto a orientar-se para o lado oposto.

Ainda, a criança com torcicolo congênito prefere dormir na posição prona (de barriga para baixo), com o lado afetado para baixo. Tal posição provoca pressão assimétrica no crânio e nos ossos faciais em desenvolvimento. Esta pressão constante na cabeça pode levar a um remodelamento nos ossos da face e resultar em hemi hipoplasia facial ou em plagiocefalia.

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Foto: Emaze

Tratamento para torcicolo congênito em bebê

Na maioria dos casos, o torcicolo congênito cura-se espontaneamente, sem necessidade de tratamento. Contudo, sem o devido tratamento, o problema pode levar a deformidades permanentes e consideráveis. Algumas das complicações que podem surgir do não tratamento incluem deformidades cranianas, faciais, da coluna vertebral, dor crônica e incapacidade.

Em cerca de 97% o tratamento clássico é suficiente para a cura do torcicolo congênito. Este tratamento consiste em um programa de reabilitação por meio da fisioterapia, com uma duração média entre quatro a sete meses, sendo estendido esse prazo quando a gravidade for maior ou caso foi detectado tardiamente. Um dos principais objetivos da fisioterapia é evitar assimetria facial e craniana, limitações na amplitude de movimento cervical e compensações posturais de longo prazo.

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A fisioterapia consiste em:

  • Massagem flexibilizante + termoterapia (compressa de água morna);
  • Alongamento passivo dos músculos: ECM, trapézio superior no lado envolvido, miofascial adjacente;
  • Técnicas manuais suaves de alongamento cervical em flexão lateral direita e rotação esquerda;
  • Exercícios de flexão lateral passiva da cervical;
  • Técnicas de fortalecimento dos músculos da cervical e de facilitação neuromuscular proprioceptiva.
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Foto: CameraJabber

Além da fisioterapia (feita por um profissional), para uma maior eficácia do tratamento, devem ainda ser incluídos cuidados a serem seguidos em casa, por parte dos pais, que são realizados integrados na rotina diária da família. Estes cuidados consistem em exercícios e técnicas de posicionamento do pescoço e da cabeça:

  • Quando estiver no berço, posicionar o bebê de modo que ele tenha que rodar o pescoço para o lado afetado para conseguir ver algo que lhe chame a atenção, como a cama onde os pais dormem, a porta, a janela etc.
  • Os pais devem deixar o bebê com a cabeça com o lado afetado voltada para uma parede lisa, para que os ruídos, estímulos luminosos e outras coisas interessantes à criança obriguem-na a virar-se para o outro lado e assim alongar o músculo afetado;
torcicolo congênito tem cura
Foto: institutopensi
  • Colocar a cabeça do bebê durante a amamentação numa posição que obrigue a criança a rodar o pescoço para o lado do músculo afetado. Por exemplo, se ele tiver o problema no lado esquerdo, deve colocar a cabeça dele apoiada no braço direito para que ele tenha de efetuar o movimento de rotação do pescoço para o lado afetado e conseguir alimentar-se;
  • Já em relação aos brinquedos, estes devem estar posicionados no lado onde o pescoço está afetado. Assim, se ele tiver um torcicolo congênito no lado esquerdo, é nesse lado que deve colocar os brinquedos, acessórios e o móbile;
  • Coloque o bebê para dormir na posição de decúbito lateral (de lado), pois favorece o alinhamento mão na mão/ mão e boca, e influencia no desenvolvimento motor. Para isso, há necessidade do uso de espumas que para a contensão do bebê;
  • É importante também o uso de compressas mornas antes da realização dos exercícios para facilitar a movimentação do pescoço e evitar possíveis dores no bebê.
torcicolo congênito
Foto: Barnasutvalgte

Cirurgia

A cirurgia corretiva é raramente utilizada. As indicações para cirurgia seriam o insucesso do tratamento fisioterápico em crianças maiores um ano de idade, que continuam apresentando certas limitações, que incluem: inclinação significativa da cabeça, limitação dos movimentos do pescoço, deformidade craniana significativa, persistência da massa cervical ou assimetria facial.

A cirurgia consiste na secção dos pontos de inserção do ECM no esterno e na clavícula, por meio de incisões transversais acima da clavícula. Em crianças maiores de dois anos é indicada a colocação de colete de gesso no pós-operatório por cinco a seis semanas, mantendo a fisioterapia no pós-operatório. A cirurgia não reverte deformidades já estabelecidas, mas impede a progressão da anormalidade, por isso é essencial um diagnóstico e tratamento precoce, de modo a se alcançar uma cura bem sucedida.

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