A papeira é uma doença transmitida por via respiratória e que pode acontecer em qualquer época do ano. Em geral, não causa complicações, mas existe a possibilidade de vir a infectar outros órgãos, resultando em meningite, orquite e encefalite.
Apesar de a doença ser considerada por muitas pessoas como erradicada no país, novos casos surgiram nos últimos anos, o que torna cada vez mais importante a prevenção por meio da vacinação das crianças.
Neste artigo, entenda como a papeira é provocada e conheça os seus sintomas, como é feito o tratamento e quais são as possíveis complicações que ela pode trazer para a saúde.
O que é papeira?
A papeira é uma inflamação viral aguda que acontece nas glândulas parótidas, resultando em inchaço e uma sensação de dor na lateral do pescoço.
Essas glândulas se localizam abaixo e à frente de cada ouvido e são responsáveis pela produção da saliva.
A papeira pode atingir os dois lados do pescoço ou apenas um. Quando afeta bebês e crianças, geralmente não resulta em danos, mas em adultos pode acabar trazendo alguns problemas mais sérios.
O contágio ocorre entre 1 e 2 dias antes do surgimento do inchaço das glândulas e outros sintomas. Já a recuperação se dá em um período que vai de 4 a 9 dias após a aparição dos sintomas.
Com o surgimento da vacina no final da década de 1960, houve uma grande queda no número de casos da papeira, chegando a afetar apenas uma a cada 1 milhão de pessoas. Porém, nos últimos anos houve um aumento nos casos da doença, tornando cada vez mais imprescindível fazer a prevenção.
A papeira é contagiosa?
A papeira é uma doença contagiosa, causada pelo vírus paramixovírus. Ela é transmitida de uma pessoa para outra por meio de secreções respiratórias infectadas, saliva, tosse, espirro ou pelo contato com objetos contaminados.
Primeiramente, o vírus se replica na mucosa da nasofaringe (situada na parte de trás do nariz), onde acaba se disseminando e pode chegar a outros órgãos.
O contágio pode acontecer se a criança, por exemplo, tocar em um objeto ou superfície contaminada pelo vírus e, em seguida, levar as mãos à boca, olhos ou rosto. Após acontecer de a criança ser infectada, ela estará imunizada contra o vírus da papeira pelo resto da vida.
A transmissão ocorre facilmente através do ar e também pode acontecer somente pela fala. Por essa razão, para evitar que a doença se propague, a criança infectada deve ser mantida isolada até se dissipar o contágio.
Ou seja, ela não deve ir à escola ou ter contato com outras pessoas, principalmente bebês e outras crianças. Esse isolamento deve ser por 9 dias desde o início dos sintomas.
Sintomas
O sintoma mais comum da papeira é o inchaço, que geralmente se manifesta em apenas um lado do pescoço no início da doença e, dias depois, pode afetar os dois lados.
O inchaço desaparece por volta de uma semana, alcançando o tamanho máximo entre o 2º e 3º dia. Também é comum que os doentes tenham algum tipo de sintoma respiratório.
Porém, também é possível acontecer de a criança não apresentar sintomas, nem mesmo o inchaço. Isso acontece entre 15% a 20% dos pacientes. É preciso dar atenção para a identificação da papeira observando os seguintes sintomas:
- Inchaço nas glândulas salivares;
- Inchaço e dor nas glândulas parótidas;
- Febre baixa e dor de cabeça;
- Sensação de mal-estar;
- Dores musculares;
- Falta de apetite (que pode ser causado por dor ao mastigar e engolir);
- Nariz escorrendo e tosse;
- Inflamação nos testículos;
- Vômitos.
É fundamental esclarecer que o diagnóstico da doença só poderá ser feito por um médico. Por essa razão, ao surgirem esses sintomas (especialmente o inchaço) a criança deverá ser examinada para identificar se está com papeira.
Isso é feito por meio de um exame de sangue, onde é realizada a medição de anticorpos específicos. O vírus também pode ser identificado em amostras da saliva e na urina obtidas do paciente, além do líquido cefalorraquidiano (que envolve o cérebro e medula espinhal), retirado através de uma punção lombar.
Além disso, é importante que o médico tenha o conhecimento a respeito do histórico da criança, principalmente em relação à sua vacinação e se houve o contato com outras pessoas contaminadas pela papeira.
Complicações da papeira
Como já foi citado, a papeira é mais grave quando atinge os adultos. Porém, na maioria dos casos, não causa danos severos para a criança. Apesar disso, embora sejam raras, existe a possibilidade de a doença causar complicações também nos pequenos.
Confira quais são as complicações que podem afetar as pessoas que foram infectadas pelo vírus da papeira:
- Crianças e adultos podem ter orquite, que consiste no inchaço dos testículos. Isso é mais comum a partir da adolescência e pode resultar em sintomas que permanecem por cerca de uma semana, como sensibilidade, dor, inchaço, febre e náuseas.
- Se a mulher grávida for afetada pela papeira no primeiro semestre da gestação, existe o risco de vir a sofrer um aborto. Apesar disso, a doença não aumenta os riscos de o bebê desenvolver malformações congênitas.
- Uma complicação rara da papeira em crianças e adultos é a inflamação dos maxilares, glândula de tireoide, rins ou cérebro.
- Quando acontece de o vírus da papeira se introduzir no organismo, pode atingir a circulação sanguínea, alcançando as glândulas cerebrais. Os sintomas surgem dependendo dos órgãos que foram atingidos.
- O sistema nervoso pode ser lesionado e resultar em dificuldade em coordenar os movimentos.
- Meningite asséptica (não bacteriana), que pode provocar sensação de sonolência, dores de cabeça e rigidez na nuca. Esse sintoma ocorre em apenas 10% dos casos e se resolve de forma espontânea, sem deixar sequelas.
- Ovarite (inflamação dos ovários). Apesar de atingir os ovários e provocar dor na região inferior do abdômen, não está associada à infertilidade.
- Pancreatite da papeira, que provoca dor na região superior do abdômen.
- Artrite (inflamação das articulações).
- Mastite (inflamação das glândulas mamárias).
- Miocardite (inflamação do músculo do coração).
- Pequeno risco de esterilidade quando a infecção afeta os dois testículos.
- A surdez em um ou nos dois ouvidos também é uma complicação que pode atingir crianças afetadas pela papeira. Ela pode ser transitória e geralmente é unilateral).
Prevenção
A forma mais eficaz de prevenir a papeira é através da vacina, que está inclusa no calendário de vacinação. Ela é administrada por meio da vacina tríplice viral (conhecida também como MMR) e, além de proteger contra a papeira, também combate o sarampo e a rubéola.
A imunização deve ser feita a partir de 1 ano de idade. Já o reforço da vacina é feito com 18 meses de idade. Os adultos também podem receber a vacina, o que é ainda mais importante quando há alguma pessoa próxima contaminada pelo vírus.
Quem toma a vacina tem a proteção acima de 96% contra a doença. Além disso, outro fator positivo é que a pessoa recém imunizada não faz a transmissão do vírus vacinal. Por conta disso, não há a necessidade de que se evite o contato com qualquer grupo de pacientes.
Como a maioria dos casos de papeira ocorre em quem não foi vacinado ou não tomou o reforço, é fundamental que essa prevenção seja feita. Dessa forma, adultos que ainda não foram vacinados ou que não contraíram a doença devem ser imunizados para evitar serem infectados pelo vírus. Porém, mulheres grávidas, pessoas enfermas e que fazem o uso de alguns tipos de medicamentos não devem receber a vacina.
Pelo fato de sintomas da papeira aparecerem cerca de dois dias após o contágio, não há a necessidade de que a pessoa infectada seja isolada das outras pessoas da família quando os sintomas começam a se manifestar. O motivo é porque, durante o período antes do surgimento dos sintomas, eles já foram expostos ao vírus.
Entretanto, as mulheres grávidas devem se manter afastadas por 26 dias desde o surgimento dos sintomas. Também é importante evitar o compartilhamento de utensílios pessoais.
Tratamento
Assim como acontece na maioria das infecções virais, o próprio organismo é o responsável por tratar a papeira. Por esse motivo, o tratamento da criança é feito apenas com o intuito de aliviar os sintomas.
Apesar disso, a boa notícia é que, na grande maioria dos casos, a recuperação acontece sem maiores complicações em até duas semanas.
O tratamento para a papeira tem como objetivo reduzir a febre e a sensação de desconforto. No caso de a criança infectada estiver, na medida do possível, aparentando-se saudável, o desconforto pode ser reduzido com o uso do paracetamol.
O uso de antibióticos não é feito para o tratamento da papeira, pois eles são eficazes apenas quando há uma infecção por bactéria, ou que não é o caso da papeira, que é provocada por vírus.
É essencial frisar que nenhum medicamento deve ser administrado sem a indicação médica.
Outra recomendação importante é que a criança com papeira não deve tomar aspirina. O motivo é o risco de síndrome de Reye, um grave quadro cerebral que pode acometer crianças que são tratadas com aspirina quando apresentam certos tipos de infecção viral.
O médico deve ser contatado nos casos onde a criança apresenta os seguintes sintomas:
- Febre por mais de 3 dias.
- Inchaço que dura mais de uma semana.
- Inchaço que se torna cada vez mais doloroso.
- O uso do paracetamol não trazer resultados.
- Ocorrem alterações no comportamento ou em suas capacidades físicas.
Como cuidar da papeira em casa
Como a papeira consiste em uma doença benigna, na maioria dos casos não há a necessidade de que seja feita uma internação. Desse modo, o tratamento é realizado na própria casa do paciente.
O tratamento da papeira é, em geral, efeito da seguinte forma:
Paracetamol
Uso do paracetamol para reduzir a febre e trazer alívio para o desconforto generalizado. Além disso, a criança deve se manter em repouso na cama para minimizar a sensação de desconforto.
Compressas
Compressas mornas ou frias para aliviar a sensação de dor e inchaço nas glândulas parótidas. Já as compressas frias para diminuir o inchaço e dor nos testículos.
Alimentação
A dieta do paciente deve ser feita à base de alimentos moles para que a mastigação seja reduzida. Água ou outros líquidos devem ser oferecidos à criança para que ela se mantenha hidratada.
Bebidas ácidas e sumos de frutas devem ser evitados, já que aumentam a sensação de dor por estimular as glândulas salivares.
Higiene bucal
Após se alimentar, o indicado é que a criança faça rigorosamente uma higiene bucal para que outras infecções sejam evitadas. Por isso, o recomendado é que os dentes sejam escovados e, quando possível, seja feito o uso de enxaguastes bucais.
Gargarejo
Fazer gargarejo usando sal dissolvido em água morna também ajuda a manter a boca limpa, além de reduzir a inflamação e irritação, permitindo que a cicatrização aconteça de forma mais rápida.
O preparo é feito colocando uma colher de sopa de sal grosso em meio copo de água morna, misturando-se bem.
Infusão
Infusão para gargarejar pode ser feito pelo paciente para aliviar o inchaço. Ela é feita colocando uma pitada de salva e de tomilho em um copo de água fervida por 5 minutos. Em seguida, deve ser coada e oferecida para a criança diversas vezes ao dia.
Com o tratamento feito de forma adequada, os sintomas da papeira serão minimizados, trazendo mais alívio para a criança. Fora isso, não há muito o que os pais possam fazer, além de estarem atentos aos sintomas e aguardar que a criança se reestabeleça.
Referências
saudecuf.pt/mais-saude/doencas-a-z/papeira
aboutkidshealth.ca/Article?contentid=753&language=Portuguese
maemequer.pt/desenvolvimento-infantil/saude-infantil/dicionario-da-saude-do-bebe/papeira/
mdsaude.com/2010/11/caxumba-sintomas.html
atlasdasaude.pt/publico/content/papeira