Tire todas suas dúvidas sobre epilepsia na gravidez.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), no ano de 2014 até 2% da população mundial sofria de epilepsia. Nos países menos desenvolvidos, a incidência é de até 5%. São mais de 60 milhões de pessoas comprometidas pela doença, de forma ativa, em todo o mundo. Só no Brasil, estimam-se três milhões de casos. Ainda segundo estatísticas, pelo menos 50% dos casos começam na infância ou na adolescência.
De acordo com a ABE (Associação Brasileira de Epilepsia), epilepsia é um “transtorno do cérebro caracterizado por uma predisposição duradoura a crises epilépticas, e pelas consequências neurobiológicas, sociais, cognitivas e psicológicas desta condição. A definição de epilepsia requer a ocorrência de pelo menos uma crise epiléptica”.
Em termos de definição clínica operacional (prática), a epilepsia é uma doença do cérebro caracterizada por uma das seguintes condições:
- Pelo menos duas crises não provocadas (ou duas crises reflexas) ocorrendo em um intervalo superior a 24 horas;
- Uma crise não provocada (ou uma crise reflexa) e chance de uma nova crise estimada em pelo menos 60%, e
- Diagnóstico de uma síndrome epiléptica.
A doença é considerada resolvida nas pessoas que tiveram uma epilepsia relacionada a uma determinada faixa etária e que agora ultrapassaram essa idade ou naqueles que tiveram a última crise há mais de 10 anos e estão há pelo menos 5 anos sem usar medicações antiepilépticas.
O diagnóstico impede uma futura gravidez?
A principal e mais conhecida característica do problema é a ocorrência de crises epiléticas, que podem prejudicar a qualidade de vida de quem convive com a doença. No entanto, mesmo sendo uma doença considerada séria, ela não deve desanimar as mulheres que desejam ser mães.
De acordo com o médico Sérgio Floriano, segundo secretário da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo e professor mestre da Faculdade de Ciências Médicas de Santos, a epilepsia não impede uma gravidez. “Somente deverá ser feito uma consulta pré concepcional no intuito de avaliar a doença visando o menor número de convulsões e a melhor droga para a concomitância da gravidez, uma vez que existem medicamentos que serão contraindicados na gestação”, explica.
Sérgio, que também é diretor científico da regional de Santos da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo, comenta sobre os possíveis riscos de complicações da epilepsia na gravidez: “Atualmente a associação de epilepsia e gestação, quando descompensada, está mais correlacionada à prematuridade (9% a 11%), óbito fetal intrauterino, morte neonatal, doenças hemorrágicas do recém-nascido, menores índices de Apgar e maiores taxas de recém-nascido de baixo peso (7% a 10%), a incidência de abortamento espontâneo não esta aumentada”.
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Epilepsia na gravidez
A mulher epiléptica que deseja ser mãe deve planejar cuidadosamente a gravidez com o seu médico, com a finalidade de minimizar os riscos maternos e fetais. Segundo o médico Sérgio Floriano, o efeito da gravidez sobre a epilepsia pode ser previsto pela observância da frequência das convulsões no período pré-gestacional. “As mulheres que, apesar de utilizarem esquema anticonvulsivante adequado, e têm convulsões pelo menos uma vez por mês, apresentarão mais crises na gravidez.
Por outro lado, mulheres que estiverem livres do maior período da ausência das convulsões anteriores à gravidez terão um melhor prognóstico”, explica o médico. Outros fatores que afetam a evolução da epilepsia incluem a não aceitação do tratamento medicamentoso prescrito, privação do sono, retenção de sal e água, e a dor durante o trabalho de parto.
Cuidados e tratamento
O tratamento é realizado por meio de medicamentos, na maioria das vezes depois da segunda crise, visando diminuir as anormalidades de impulsos elétricos cerebrais e, por conseguinte, bloquear as crises.
Alguns medicamentos utilizados no tratamento da epilepsia são claramente teratogênicos (causadores de malformações). A maior parte deles atravessa a placenta e, por ocasião do final da gravidez, os níveis do sangue maternos e do cordão umbilical serão aproximadamente semelhantes.
“As malformações atribuídas às drogas anticonvulsivantes são, especialmente as alterações cardíacas, as orofaciais – estas 10 vezes mais frequentes do que a população geral. A associação de drogas apresenta maior risco de acometimento, portanto o ideal será ter idealmente somente um medicamento prescrito para trata-la”, esclarece Sérgio.
Segundo o médico, o tratamento adequado deverá ser individualizado e discutido previamente na consulta pré concepcional, assim como a oferta de ácido fólico para minimizar a possibilidade de o feto ser acometido por uma malformação específica do sistema nervoso central, que são os defeitos de fusão do tubo neural (espinha bífida, meningomielocele e anencefalia).
Portanto o sucesso dessa, assim como de várias outras doenças na gestação será a orientação pré concepcional e sua análise criteriosa prévia à gestação.
Principais causas
Quando questionado se a doença se transmite de mãe para filho, o médico Sérgio Floriano é enfático: “Não da forma congênita (transplacentária)”. Existem múltiplos fatores que podem desencadear uma crise epilética.
Entre os mais comuns estão “as lesões no cérebro decorrentes de traumatismos de parto e traumatismos cranianos – que provocam cicatrizes cerebrais; ingestão excessiva de álcool; consumo de drogas ou outras substâncias tóxicas; doenças infecciosas (como meningite); neurocisticercose (“ovos de solitária” no cérebro); tumores”, disse. Além dessas causas também podem provocar um ataque epiléptico AVC’s (Acidentes Vasculares Cerebrais) hemorrágicos ou isquêmicos, bem como outros problemas cardiovasculares, também.