Maio é mês de conscientização sobre a DC (Doença Celíaca) em vários países, incluindo o Brasil, que possui um dia nacional para o tema: 20 de maio.
Visando orientar sobre a patologia, o site Gestação Bebê esclarece algumas dúvidas.
A DC acomete indivíduos de qualquer idade e de ambos os sexos, com predomínio do feminino. Cerca de 1% da população mundial é celíaca. Um estudo da Universidade Federal de São Paulo, de 2007, revelou que 1 a cada 214 brasileiros possui a doença.
Ainda desconhecida pela maioria da população – e, infelizmente, por parte da classe médica – a doença se caracteriza por um processo inflamatório crônico que ocorre em indivíduos geneticamente predispostos e afeta o sistema imunológico. É causada por uma reação do corpo à gliadina (proteína do glúten presente no trigo) e proteínas semelhantes presentes na cevada, centeio e malte. Na aveia pode estar presente por contaminação do trigo.
Quando o celíaco ingere o glúten seu sistema imunológico reage contra a proteína levando a uma reação inflamatória que causa uma atrofia das microvilosidades do intestino. Consequentemente, desenvolve-se um quadro de má-absorção e deficiências nutricionais.
O indivíduo com Doença Celíaca apresenta, portanto, uma intolerância permanente ao glúten.
Doença celíaca – Sintomas
De acordo com a Fenacelbra (Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil), são inúmeros os sinais que têm sido relatados, tanto em crianças como em adultos. Dentre os principais estão:
-Diarreia crônica (que dura mais do que 30 dias)
–Prisão de ventre;
-Anemia;
-Falta de apetite;
-Vômitos;
-Emagrecimento/ obesidade;
-Atraso no crescimento;
-Humor alterado: irritabilidade ou desânimo;
-Distensão abdominal (barriga inchada);
-Dor abdominal;
-Aftas de repetição;
-Osteoporose / osteopenia;
-Problemas de pele.
Doenças associadas
Geralmente são afecções que envolvem mecanismos autoimunes e/ou ligadas ao HLA (sistema antígeno leucocitário humano). O quadro clínico pode ser um “mosaico” entre os sintomas e sinais da DC. De acordo com o site oficial da Fenacelbra, as doenças associadas à DC, são:
-Acidose tubular renal
-Alveolite fibrosante
-Artrite reumatóide
-Asma e atopia
-Câncer do intestino delgado
-Câncer do esôfago e da faringe
-Cirrose biliar primária
-Coarctação da aorta
-Deficiência de IgA
-Diabetes Mellitus
-Doença de Addison
-Doenças da tireóide
-Epilepsia com calcificações cerebrais
-Fibrose cística
-Hemossiderose pulmonar
–Alergia alimentar
-Linfoma
-Lúpus eritematoso disseminado
-Pancreatite crônica
-Poliomiosite
-Psoríase
-Síndrome de Down
-Síndrome do intestino irritável
-Síndrome de Asperger
-Síndrome de Sjögren
DC em crianças
De acordo com a primeira estimativa global da doença celíaca feita em 2011, a patologia é responsável pela morte de cerca de 42 mil crianças todos os anos – a maioria na África e na Ásia. A pesquisa revelou que havia em 2010 cerca de 2,2 milhões de crianças menores de cinco anos de idade vivendo com a DC. Em 2008, as mortes relacionadas à doença, provavelmente, foram responsáveis por aproximadamente 4% de toda a mortalidade infantil por diarreia.
A criança que possui os sintomas clássicos da DC pode apresentar baixa estatura para a idade, perda de peso, além de reações como diarreia, barriga inchada, anemia e vômito. Alguns quadros, chamados de não clássicos, são monossintomáticos e podem aparecer quando a criança apresenta um desses sinais, isoladamente. Pode só ficar com o intestino preso ou só apresentar baixo ganho de peso, por exemplo. Em geral, o celíaco apresenta os primeiros sinais de intolerância ao glúten assim que começa a ingerir alimentos sólidos com a proteína, o que acontece entre 1 e 3 anos de idade.
Importante salientar que amamentação não tem nenhuma influência no aparecimento da doença. Ao contrário, ela é um “fator protetor” da saúde do bebê, porém não previne nem tampouco transmite a doença celíaca.
Relatos
Mariana Ruiz, mãe da Isabella de 6 anos, relata como foi a vida da criança até o diagnóstico de DC. “Isabella nasceu em 2011. Uma criança linda e saudável. Todos os exames sempre deram normais. Eu sempre andava com um pacote de biscoito Maisena, pois ela adorava, assim como macarrão com caldo de feijão. Ela era uma bebê forte e quando a levava na pediatra, a mesma a chamava de ‘baiacu’, por causa da barriga que era grandinha, mas quando ela fez 1 ano e 8 meses começaram os sintomas. Vômitos e diarreias (atacava mais à noite – era umas 5 vezes por noite). Ela batia com a cabeça na parede, mas eu achava ser frescura para chamar atenção – isso parte meu coração só de lembrar. A barriga passou a ficar dilatada e dura, teve irritabilidade e entrou em estado de desnutrição severa (porém a barriga grande e dura permanecia).
Não esperei agravar o quadro e, a partir do primeiro sintoma de vômito e diarreia, a levei no pronto socorro onde eu sempre voltava com o diagnóstico de virose ou sinusite. Foram vários antibióticos e nunca via melhora. Passei por uns 10 médicos e NADA. Até um dia em que levei minha pequena no hospital novamente, onde a médica solicitou um raio-X. Ao ver o resultado ela disse que minha filha era digna de um estudo e disse para eu correr com ela. Aquele dia foi o pior de todos, pois se um profissional fala isso, é porque é sério. Porém ninguém falava mais nada. Os dias foram passando, as angústias aumentando até que ela parou de andar. Não tinha forças mais. Desesperada, fui a outros médicos e nunca encontravam uma solução.
Em pesquisas na internet baseando nos sintomas, eu e minha mãe vimos a história de um menino desnutrido e com a barriga distendida igual da minha filha, foi aí que lemos pela primeira vez sobre Doença Celíaca. Procuramos o último médico que abraçou a causa. Quando relatamos o ocorrido e sugerimos o que poderia ser, na mesma hora ele solicitou os exames necessários. Para confirmar a DC, fiz a endoscopia com a biopsia que concluiu finalmente o que a Isa tinha: DC.
Ela foi melhorando e graças a Deus o brilho no olhar dela voltou assim como o seu bom humor, a sua alegria e a sua agitação. Depois que me aprofundei no assunto, optamos por retirar o glúten também em casa para evitar a contaminação cruzada. Em uma das crises dos sintomas, ela teve várias lesões no intestino assim como um cisto no fígado. Com uma dieta bem feita e o apoio total da minha família, sumiram”.
Para Marielle Ramos, também mãe de uma criança diagnosticada com DC, a doença não tratada é uma porta aberta para outras autoimunes, pois tudo começa no glúten. “Eu descobri o verdadeiro problema do meu filho quando ele já estava com oito anos de idade e dentro do espectro autista, pois o glúten deu inflamação cerebral nele. Depois de lutas incansáveis, descobrimos o verdadeiro motivo de um autismo regressivo após os três anos (tardio).
Com todos os cuidados que hoje ele tem nós podemos dar qualidade de vida a ele, mas, os progressos da primeira infância foram perdidos. Foi diagnosticada e medicada erradamente a Síndrome de Asperger até os 8 anos do meu filho sem nenhum progresso. Após a dieta livre de glúten, em um ano e meio ele caiu do ATC 37 para o 8, dentro do espectro autista. Acredite, o glúten pode levar a doenças que você nem imagina, inclusive neurodegenerativas”.
Ambas as mães participam do grupo Viva Sem Glúten, no Facebook, destinado a portadores de DC e SGNC (Alergia ou Sensibilidade ao Glúten Não Celíaca), familiares e amigos, e visa a troca de informações sobre a DC e SGNC, receitas sem glúten, opiniões sobre produtos para celíacos, troca de experiências, acolhimento e solidariedade.
Doença celíaca no bebê- Diagnóstico
Ao desconfiar que seu filho tenha os sintomas da DC, o primeiro passo é consultar o pediatra, que avaliará o estado geral da criança. É importante que ele levante a hipótese da doença celíaca e inicie uma investigação.
A investigação para a conclusão do diagnóstico costuma seguir três passos: histórico familiar da doença (por ser genética, a doença pode estar presente em um ou mais membros da mesma família), exame de sangue e biópsia do intestino delgado por endoscopia.
Segundo a Fenacelbra, os exames de sangue em que se verificam o anticorpo anti-transglutaminase tecidular (AAT) e do anticorpo anti-endomísio (AAE) são altamente precisos e confiáveis, mas insuficientes para um diagnóstico. A doença celíaca deve ser confirmada encontrando-se certas mudanças nos vilos que revestem a parede do intestino delgado. Para isso, uma amostra de tecido do intestino delgado é colhida por meio de um procedimento chamado endoscopia com biópsia (um instrumento flexível como uma sonda é inserido através da boca, passa pela garganta e pelo estômago, e chega ao intestino delgado para obter pequenas amostras de tecido).
Tratamento
O único tratamento é uma alimentação sem glúten pelo resto da vida. A criança que possui a Doença Celíaca precisará seguir uma dieta totalmente livre de glúten, ou seja, não poderá consumir alimentos que contenham trigo, aveia, centeio, cevada e malte ou os seus derivados (farinha de trigo, pão, farinha de rosca, macarrão, bolachas, biscoitos, bolos e outros). A doença celíaca pode levar a outras doenças graves e até mesmo à morte se não for tratada.
A pessoa celíaca pode ter uma vida igual à das outras pessoas, mas desde que cumpra uma dieta livre de glúten. Um celíaco que cumpra a dieta é uma pessoa com as mesmas capacidades físicas e intelectuais que um não celíaco. A pessoa somente se torna doente se não cumprir a dieta.